quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Mercadores de caridade

Nazanin Amirian

Público

Tradução do espanhol: Renzo Bassanetti

Numa cena do filme The Kid, de Charles Chaplin(*) o malandro Carlitos propõe ao menino quebrar algumas vidraças da vizinhança para ele lucrar com a venda de vidros novos. A parábola do grande cômico lembra essas reuniões de cúpula que repartem o pastel das pretensas reconstruções de nações inteiras anteriormente destruídas pelos próprios convocantes.

Os que provocam guerras ou empobrecem territórios exibem, por sua vez, cartazes de apoio aos órfãos das Chimbambas. Os mesmos bancos que propõem apadrinhá-los são os que aqui despejam, sem pestanejar, anciãs que não puderam pagar duas prestações. Até Bush reivindica a filantropia com os sem-teto do Haiti.

O assistencialismo promovido pelas ONGs se apresentou no final dos anos 80 como um eficaz mecanismo para acabar com o subdesenvolvimento. Essa data coincide com o retrocesso das forças de esquerda e a expansão do neoliberalismo. O cooperador compassivo iria desbancar o ativista político para neutralizar os protestos dos atingidos.

Sem questionar o sistema que reproduz seres vulneráveis em massa, as ONGs do Sul despolitizam as reivindicações populares e narcotizam o espírito crítico dos destinatários, que recebem humilhados as esmolas dos poderosos, em vez de se organizarem para estabelecer a justiça social. Além disso, essas entidades desacreditam o serviço público dos Estados em benefício da iniciativa privada.

No Norte, elas se servem da publicidade sensacionalista. Manipulam a generosidade efêmera das pessoas e fazem crer que a raiz do problema é a falta de moralidade e de solidariedade, e que a solução repousa na compaixão, em repartir esmolas.

Quanto mais sócios tenham, mais subvenções receberão. As receitas irão, em boa parte, para propaganda e gastos administrativos, como os salários dos cooperadores profissionais, que freqüentemente se reciclam, se promovem e elevam seu status social, o que provoca questionamentos sobre se a ajuda é realmente “desinteressada”.

A pobreza sempre tem sido rentável para uma minoria, se não ela já teria sido proibida há muito tempo.

As injustiças sociais diminuem somente através da mudança na correlação das forças políticas em benefício dos partidos progressistas.

(*) N. do T.

Fonte: http://blogs.publico.es/puntoyseguido/85/mercaderes-de-la-caridad/

Nenhum comentário:

Postar um comentário