quinta-feira, 20 de maio de 2010

A catástrofe ecológica do Golfo do México

A ganância acima de tudo

Angel Guerra Cabrera
Tradução do espanhol: Renzo Bassanetti

A mancha de petróleo no Golfo do México atinge milhares de quilômetros quadrados sem que nada possa freá-la, e ameaça infringir danos irreparáveis aos preciosos manguezais da Louisiana, a recifes únicos repletos de crustáceos e moluscos e bancos de peixes que dão trabalho a dezenas de milhares de pessoas, assim como a outros ecossistemas entre os mais ricos e importantes dos EUA, como o grande banco de corais na costa sul da Flórida. O caso do Exxon Valdez, ainda que menos grave, pode nos dar uma idéia: das 30 espécies de animais mais afetadas, 20 ainda não se recuperaram duas décadas após. Ninguém pode prever os efeitos econômicos, sociais e ecológicos que serão ocasionados pelo derrame, mas não há duvidas que serão catastróficos. Ninguém sabe a quantidade de petróleo cru vertido desde que a plataforma Deep Water Horizon foi presa das chamas, seguidas de uma explosão que matou onze trabalhadores, e menos ainda a quanto chegará a quantidade total até se conseguir controlar o derrame, operação que pode levar de dois a três meses. Se os volumes médios diários divulgados pelos especialistas são corretos, o total acumulado até hoje, 23 dias depois do sinistro, pode oscilar entre 115 mil e 575 mil barris de petróleo, mas também advertem que a fuga do óleo cru pode aumentar exponencialmente caso ocorra o colapso do poço.

Segundo Richard Carter, da Organização da Vida Silvestre, o tamanho do derrame de petróleo “é tão grande e se expande de uma forma tão rápida que vai além da efetividade da resposta humana... somos testemunhas de um envenenamento que durará... muitas décadas”

Quando se lê sobre o primeiro comparecimento no Senado dos EUA dos representantes das empresas envolvidas no derrame – British Petroleum (BP), Transocean e Halliburton, o que se estranha é que não hajam ocorrido sinistros semelhantes anteriormente. Alem de todos terem jogado a culpa uns nos outros, nenhum foi capaz de informar quanto é dedicado por suas empresas em pesquisas e desenvolvimento para evitar derrames de petróleo em águas profundas. A BP tem um longo histórico de acidentes, explosões e graves irresponsabilidades, para não falar dos expedientes delituosos da Halliburton.

Contudo, em um artigo publicado no Huffington Post por Robert Kennedy Jr., intitulado “Sexo, Mentiras e Derrames de Petróelo”, este sublinha que inclusive a BP cumpre em outros países as regulamentações legais relativas à segurança, que não observou nesse caso, como o uso do regulador acústico, que após falhar o regulador manual na plataforma, poderia ter evitado o rompimento das tubulações do poço. Kennedy explica a perversa generosidade do governo de George W. Bush com as grandes empresas petrolíferas, chegando à situação extrema de que na lei de energia aprovada por este em 2005 foi eliminada a obrigatoriedade de uso da válvula acústica. Mais indignação causa o custo desse dispositivo, que ascende a 500 mil dólares, comparados com os mais de 100 milhões de dólares diários de lucros da BP. Kennedy lembra as reuniões secretas de Richard Cheney com os diretores das grandes petroleiras no início de 2001, das quais saíram as políticas da administração dirigidas a satisfazer servilmente todos os desejos das corporações. Acrescenta que, em um clima de tolerância absoluta à irresponsabilidade das petroleiras, não é estranho que a BP tenha deixado de utilizar outra válvula de segurança no fundo do poço, o que também poderia ter evitado o acidente, ou seu costume de perfurar nos EUA álém dos 18 mil pés (5900 metros) permitidos pela lei, outra possível causa do derrame. Kennedy descreve o grau de decomposição moral ao qual foi conduzido o Serviço de Administração Mineral (MMS, por sua sigla em inglês) – a agência reguladora do petróleo e mineração - por Richard Cheney. Seus funcionários investiam grande parte do seu tempo em confraternizações com executivos das empresas petrolíferas regadas com abundante álcool, cocaína e maconha; funcionárias da agência trocavam favores sexuais com os executivos dessas empresas por contratos ilegais. Kennedy cita parágrafos de vários relatórios de 2009 do Inspetor Geral dos EUA, detalhando as relações sem ética entre os funcionários do MMS e os executivos das petroleiras.

Contudo, por mais leis e regulamentações que se criem, no capitalismo é sempre a vontade da ganância que termina decidindo em detrimento dos cuidados com a vida e a saúde das pessoas e o meio ambiente.

Versão original em: http://www.jornada.unam.mx/2010/05/13/index.php?section=opinion&article=024a1mun

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