Joel Kovel é uma das principais referências do ecossocialismo, sendo o autor do Manifesto Ecossocialista junto com Michael Lowy.
Aqui ele dá uma entrevista em 2008 sobre os seu livro "O inimigo da natureza" (que é o capitalismo) e a questão do clima ao site Mudanças Climáticas da ANDI, agência de notícias dos direitos da infância. Veja o vídeo que está seguido da tradução para o português.
Transcrição:
Joel Kovel: Nos Estados Unidos, em particular, ou ao redor do mundo, pessoas não apreciam quão poderosa é a força da luta de classes. Se alguém tem a vassalagem da classe capitalista, ele (como Marx uma vez disse) é a personificação do capital. Ele pode ir para casa no final do dia, ele pode ser gentil com suas crianças, ele pode ficar pensativo sobre o futuro, ter um jardim, e assim por diante. Mas uma vez que ele chega ao trabalho, aquela força poderosa assume controle e determina o que ele faz. Algumas pessoas pensam que o capitalismo é somente uma maneira de fazer muito dinheiro. Claro que é uma maneira de fazer muito dinheiro, mas também é todo um modo de vida. E capitalistas não conseguem enxergar como sair disso. Uma das seções do meu livro trata substancialmente sobre essa psicologia da classe dominante, em cerca de dez coisas diferentes nas quais você pode olhar para entender porque eles não conseguem enxergar. O fato é que eles são muito protetores contra as implicações e têm idéias de si próprios como poderosos. Eles se isolam. Eles ficam no topo de prédios de cem andares. Eles não olham de fato para o mundo abaixo. Eles olham para os gráficos.
Então, por várias razões eles não podem ver a saída disso. Se um capitalista chega a ver como sair disso, o que acontece é que ele pára de ser um capitalista e outra pessoa toma o lugar dele. Ele não foi assassinado nem nada disso. Ele se aposenta, vai jogar golfe ou fazer o que ele quiser, vai para a Flórida, viajar ao redor do mundo, mas alguém assume aquela posição. Tem sempre uma longa fila esperando do lado de fora. Capital é um poder e ele cria um tipo de capitalista. E o capitalista financia e apóia somente esses tipos de grandes organizações de mídia, visto que nós chegamos a um estágio em que as contradições são tamanhas que você está vendo mais e mais pessoas saindo disso. Então, o panorama é mais esperançoso de certa forma do que há cinco ou dez anos.
J. K.: O fato é que o capitalismo tornou-se globalizado, nos últimos trinta anos. Você tem várias pessoas que estão nos países em desenvolvimento e têm uma posição de grande poder. Você também tem o que eu chamo de organizações trans-estatais, como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e os diversos bancos de desenvolvimento, que impõe a mesma lógica nos países periféricos. Então há sempre de haver políticos e executivos – certamente no Brasil, porque é um país intermediário, muito poderoso e com várias áreas em desenvolvimento, mas também em lugares como Bangladesh, que é muito pobre –, você sempre verá a mão do capital, a mão do imperialismo norte-americano, e isso irá impor o mesmo ponto de vista. Se você quer saber sobre um tratamento adequado dessas questões, você pode consultar a imprensa em certos países que possuem uma boa cobertura. Em algum grau, isso ocorre na Índia. Mas atualmente a melhor cobertura nacional é na Inglaterra, onde a imprensa é muito decente, mas não boa o suficiente (até lá não é boa o suficiente), porque eles não assumem uma posição de que o capitalismo é o problema.
J. K.: Isso é bem tolo, mas é compreensível. Será muito difícil romper com o hábito de combustíveis fósseis. Diplomatas e políticos em um país como o Brasil podem dizer “Nós só contribuímos com 1,2% do carbono mundial, então por que você está se preocupando? Olhe para os Estados Unidos e China”. De certa forma, isso é compreensível, mas claramente isso é também suicida, porque o que eles não avaliam é que o planeta inteiro está envolvido nisso. O Brasil pode ser relativamente mais isolado mais isso não é realmente consolador. Se tudo sair de controle, como de fato pode ocorrer com mudanças climáticas, oceanos subirão em muitos metros. O Brasil possui várias cidades litorâneas. Essas cidades serão inundadas. O Rio de Janeiro irá desaparecer, em alguns aspectos. Tem-se que ter uma consciência global. Tem-se que perceber que existe uma economia globalizada, uma única sociedade global com muitas variações dentro dela, como qualquer sociedade, e as pessoas têm que assumir uma responsabilidade planetária. Em cada país, nós temos que confrontar nossos líderes para fazê-los tomar essa responsabilidade.
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