domingo, 25 de julho de 2010

Índios fazem cerca de 100 reféns em usina no Mato Grosso

25/07/2010 - 16h35
MÁRIO SÉRGIO LIMA
DE BRASÍLIA
ELIDA OLIVEIRA
DE SÃO PAULO

Atualizado às 17h10.

Um grupo de 300 a 400 indígenas de 11 etnias invadiu na manhã deste domingo a usina hidrelétrica de Dardanelos, no Rio Aripuanã (383 km de Cuiabá), Mato Grosso, fazendo reféns por volta de cem funcionários. Segundo a Funai (Fundação Nacional do Índio), a ocupação foi feita de forma tranquila e não há feridos.

Com os corpos pintados e empunhando arcos e flechas, os índios fecharam a usina às 5 horas e impediram a saída dos funcionários que trabalham na construção da represa, que deverá ser concluída neste ano. Os funcionários estão confinados nos alojamentos.

De acordo com o chefe do núcleo de apoio local de Juína (729 km de Cuiabá) da Funai, Antônio Carlos Ferreira de Aquino, os índios contestam procedimentos que eles julgam equivocados no licenciamento ambiental da usina.

"Não foram considerados aspectos da situação dos índios. A empresa dinamitou a parte de um sítio arqueológico. A construção está fora da área [dos índios], mas sobre um sítio arqueológico que foi cemitério indígena e tem valor inestimável para eles", diz.

Apesar disso, ele avalia que há formas de minimizar os danos. "Os índios estão abertos a negociações sobre compensações financeiras" , afirma.

AMEAÇAS

O líder da etnia rikbaktsa e representante dos 11 grupos presentes na invasão, Jair Tsaidatase, avisou que vai pedir indenização à empresa pelos danos causados às tribos e à natureza, mas não soube mencionar a quantia pretendida. Para ele, bastam estudos ambientais para definir o que se perdeu e para estabelecer as compensações ambientais.

Segundo Jair, não há previsão de saída da usina. Eles cobram a presença de representantes da usina, da Funai, da Secretaria do Meio Ambiente de Mato Grosso e do Ministério Público.

Ele diz que o grupo permanecerá na área até que se chegue a um acordo. "Se não negociarmos, vamos colocar fogo em tudo", afirmou.

A reportagem tentou contato com a Águas de Pedra --responsável pela obra--, mas não teve retorno.

EXIGÊNCIAS

Os índios exigem a presença de representantes da Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso, do Ministério de Minas e Energia, da Funai de Brasília, do Ministério Público, do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e da empresa Águas da Pedra para uma reunião.

Também segundo Aquino, eles não abrem mão do encontro e não devem liberar os reféns antes da reunião, que deve ocorrer até o meio-dia de amanhã. A polícia local está de sobreaviso, segundo o representante local da Funai.

PAC

A usina hidrelétrica de Dardanelos está entre as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) .

Segundo a Águas da Pedra, vai gerar 261 megawatts, energia suficiente para 600 mil habitantes por dia. A hidrelétrica binacional de Itaipu (PR) tem potência de 14 mil megawatts e a de Belo Monte, 11.233.

O Ministério Público de Mato Grosso já entrou com diversas ações civis públicas questionando o licenciamento ambiental da obra.



Geral | 25/07/2010 | 18h03min


300 índios de oito etnias diferentes ocupam a entrada do canteiro de obras de Hidrelétrica
Segundo coordenador da Funai, indígenas reivindicam reparação pela área, considerada um cemitério sagrado

Cerca de 300 índios de oito etnias diferentes estão ocupando a entrada do canteiro de obras da Usina Hidrelétrica de Dardanelos, na cidade Aripuanã, no Mato Grosso. De acordo com o coordenador da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Juína (MT), Antônio Carlos Ferreira Aquino, cerca de 100 trabalhadores que vivem dentro da área estão mantidos reféns.

Segundo Aquino, os índios reivindicam ações de reparação, porque a hidrelétrica está sendo construída em cima de um cemitério sagrado para eles.

— Eles não querem dinheiro em mãos. O que eles querem é um programa de sustentabilidade da área que venha a ressarcir a perda que eles tiveram com esse sítio arqueológico — afirma o coordenador da Funai.

De acordo com o coordenador, não há violência no local, que está ocupado desde as 5h deste domingo. Mas o gerente de meio ambiente da Companhia Águas da Pedra, responsável pela usina, Paulo Rogério Novaes, diz ter receio pelos trabalhadores que estão presos dentro da área.

— Eles disseram que se em dois dias não aparecerem autoridades para resolver o problema, eles irão colocar fogo em todo o canteiro de obras — alega Novaes.

Na versão dele, o que os índios reivindicam são condições sociais melhores, como acesso à educação, à saúde, melhoria das estradas de acesso às aldeias e a inclusão deles no programa Luz para Todos.

— São problemas que o Estado tem que resolver, mas eles acham que são responsabilidades da usina — afirma o gerente da Águas da Pedra.

Segundo Novaes, a hidrelétrica não funcionará com represas e seu impacto ambiental é baixo. Com isso, os índios não seriam atingidos diretamente pela obra, uma vez que a aldeia mais próxima fica a 42 quilômetros de distância.

— Mas nós temos um programa de ações mitigadoras que trata de medidas de apoio social. Só que esse programa foi entregue à Funai em 2005 e até hoje nós não obtivemos resposta. Nós queremos fazer alguma coisa, mas estamos esperando para saber o que e como — alega Novaes.

A conclusão das obras da Usina de Dardanelos está prevista para até o fim deste ano. A expectativa tanto do coordenador da Funai quanto do gerente da Águas da Pedra é que autoridades do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), do Ministério de Minas e Energia e da Funai, em Brasília, cheguem à região no norte de Mato Grosso nesta segunda-feira.

AGÊNCIA BRASIL

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