11/8/2010
O cacique Raoni Metuktire, líder dos Caiapós em Mato Grosso, apelou, ontem, em Altamira, no Pará, às jovens lideranças indígenas para assumirem a luta contra a Usina de Belo Monte como estratégia de defesa da sobrevivência das nações indígenas do Brasil.
A reportagem é de Fátima Lessa e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 11-08-2010.
"Se mirem em mim. Enquanto eu estiver vivo direi não, não à destruição dos povos indígenas. Contem comigo meu parentes. Não desistam e não tenham medo porque as polícias Militar, Civil e Federal não vão nos matar", disse
Num discurso bastante inflamado Raoni pediu aos mais jovens que não se rendam às grandes ofertas do governo que visam destruir a nação indígena brasileira: "Não entreguem nossa água, nosso peixe, nossas terras." Questionou a necessidade de o governo investir na construção de hidrelétrica como modelo de desenvolvimento: "Por que o governo tem de fazer hidrelétrica ? Por que tem que matar, acabar com os índios para entregar nossas terras para outras pessoas?"
Raoni participa em Altamira do evento Acampamento Terra Livre Regional, na orla do cais do porto da cidade, próximo à sede da Eletronorte, cujo foco é a construção da Belo Monte, principal obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) O cacique Arara, Josinei Arara, disse que se o governo insistir na construção da Belo Monte sem consultar as populações indígenas vai ter uma "grande surpresa". ''Muita gente vai morrer, nem que não sobre nenhum Arara", disse.
Até o fim de ontem, cerca de 350 lideranças indígenas participavam do manifestação. A expectativa é que o número de participantes aumente nesta quarta-feira. Por telefone, o coordenador da Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), Marcos Acurinã, disse que, ao contrário do que o governo divulga, os povos indígenas das aldeias que serão mais atingidas, Juruna e Arara, são contra a construção: "O que se percebe é que de todos eles - ai incluindo as lideranças já cooptadas pelo governo através da Eletronorte, apenas 10% são favoráveis, entre 30 a 40% são contra e, o restante estão em dúvida porque ainda não entenderam o que vai acontecer com eles.
Apoio
O Acampamento Terra Livre também será utilizado para debater as consequências dos grandes empreendimentos na Amazônia: hidrelétrica do Rio Madeira e a Rodovia 163. Aberta nos anos 1970 como uma das grandes obras de infraestrutura projetadas pela ditadura militar tinha como meta tentar integrar a Amazônia à economia nacional. A rodovia deve ligar Cuiabá (MT) a Santarém (PA).
O evento conta com o apoio das organizações Amazon Watch, International Rivers, Amigos da Terra, Fundação Nacional do Índio e Ministério da Saúde. Será encerrado na amanhã com a apresentação de um documento com as reivindicações e propostas dos índios e ribeirinhos atingidos por barragens e deverá ser entregues aos candidatos à presidente até o fim de agosto depois do Acampamento Terra Livre Nacional que acontece de 16 a 20 em Campo Grande (MS).
Inundação gigante
A usina hidrelétrica de Belo Monte será construída no Rio Xingu (PA) e vai inundar uma área de 516 quilômetros quadrados.
A capacidade de geração é de 11.233 megawatts
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