01 de agosto de 2010 ARTIGOS
A Copa do Mundo exacerbou de tal forma o amor pelo Brasil que o nosso patriotismo esgotou-se no futebol. Fora disso, na economia ou no cotidiano, tudo permitimos ao que for estrangeiro. Tal é a benevolência que, lá fora, grandes consórcios (e governos) costumam dizer que “o Brasil é o paraíso”.
Permitimos, até, iludir as leis. Nos meios de comunicação, por exemplo, a Constituição limita a participação estrangeira a 30% do capital, mas nem sequer o alerta da Associação Nacional dos Jornais e da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão levou o governo federal a impedir que grupos portugueses e espanhóis tomem conta do setor. Depois de lançar um diário econômico no centro do país, uma empresa portuguesa comprou, há pouco, os jornais do grupo “O Dia”, do Rio de Janeiro, e espreita com voracidade novas presas. Na internet, a Telefônica, da Espanha, controla o “site” Terra, talvez o maior do país.
Ante a inação do governo federal, em maio a ANJ e a Abert denunciaram a situação à Procuradoria Geral da República. A internet não pode ser área sem lei, terra de ninguém, sustentaram.
Nas telecomunicaçõ es, a Portugal Telecom transformou- se agora em maior acionista da Oi Telemar, até aqui empresa nacional, na qual o BNDES injetou R$ 13,6 bilhões em 2008. Os portugueses pagaram R$ 8,4 bilhões por 23% do capital, e terão poder de veto às decisões dos outros grandes acionistas, os grupos Andrade Gutiérrez e Carlos Jereissati. Da Lusitânia controlarão a estratégia de um setor vital.
O presidente Lula da Silva deu o aval à operação. A lei exige a anuência antecipada da Anatel, uma balela, pois a transação foi feita antes de consulta à agência reguladora.
Para entrar à telefonia fixa, a Portugal Telecom vendeu por 7,5 bilhões de euros seu quinhão na Vivo à Telefônica espanhola, a qual – assim – será o maior grupo de telecomunicaçõ es no país em clientes e faturamento.
Nessa área, já nada é nacional. A Embratel, criada pelo governo federal como empresa chave, há anos pertence ao mexicano Carlos Slim, como a Claro e outras.
A crise na Europa desloca o interesse de grandes empresas para o Brasil, com tarifas cinco vezes mais altas e amplo mercado. No frenesi da telefonia móvel, até as famílias humildes têm mais de um aparelho. A insegurança urbana e o medo tornam o celular um moderno anjo da guarda, acompanhando crianças e idosos.
Além disso, aqui é o paraíso. Tão-só em junho, as empresas estrangeiras com filiais no Brasil enviaram (como lucro) às matrizes US$ 4,156 bilhões. Com isso, o déficit mensal das contas externas alcançou US$ 5,18 bilhões, o maior dos últimos 70 anos. No primeiro semestre, as multinacionais enviaram (como lucro) US$ 14,967 bilhões ao estrangeiro. E, assim, o déficit das contas externas bateu outro recorde, quase US$ 27 bilhões, mais do que o triplo de 2009.
Para exportar, porém, o cipoal burocrático exige ao produtor brasileiro apresentar 115 documentos de 14 ministérios com 975 informações. Só não indagam do grupo sanguíneo...
* Jornalista e escritor
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