No final do ano, no México, pode até sair um acordo climático internacional. Mas, se isso acontecer, será um grande arcabouço; detalhes importantes virão depois. Também não se espera que o acordo possa ser legalmente vinculante, ou seja, um tratado internacional com força de lei, porque países como China e Estados Unidos, que resistiam à ideia em 2009, não parecem ter mudado de posição.
A reportagem é de Daniela Chiaretti e publicada pelo jornal Valor, 10-06-2010.
"Não acredito que será possível termos um acordo climático legalmente vinculante em Cancún", disse ontem em Bonn o embaixador brasileiro para mudança climática Sergio Serra. Segundo ele, Cancún já é visto como um passo rumo à CoP-17, na África do Sul, em 2011.
A nova secretária-executiva da Convenção do Clima, a costarriquenha Christiana Figueres, que substituirá o holandês Yvo de Boer no início de julho, ampliou o foco do debate. "Não é assim, branco e preto. Acredito que nunca teremos um acordo final de mudança climática, certamente não durante a minha vida." Ela ponderou que a ciência está sempre avançando nessa questão e, portanto, exigindo novos passos dos políticos.
De Boer pediu mais urgência em seu discurso de despedida. "Não podemos mais adiar ações por muito tempo. Do jeito que as coisas estão agora, não conseguiremos parar o crescimento da emissão de gases estufa nos próximos dez anos", disse. Essas emissões causam o aquecimento global.
"Todos ficamos frustrados com a velocidade e a falta de progresso das negociações em Copenhague", reconheceu Lawrence Graff, da Comissão Europeia. "E, para recuperarmos a confiança do público, que parece ter perdido a fé neste processo, temos que garantir que algo seja concluído logo".
Segundo ela, a UE é leal ao Protocolo de Kyoto, um ponto de muita tensão em 2009, quando países em desenvolvimento descobriram que Japão, Canadá e a UE queriam o fim de Kyoto e um novo acordo. O discurso europeu hoje é mais pragmático. "Mas é preciso considerar que o Protocolo tem muitos pontos fracos que têm que ser revistos."
A crise econômica na Europa, muito agravada nestes seis meses do pós-Copenhague, está bloqueando o comprometimento europeu com mais ajuda à redução de emissões ou adaptação aos países mais vulneráveis aos impactos da mudança do clima. "Temos que encarar isso, vamos deixar de ser ingênuos", disse Lawrence. Se por um lado a crise diminui as emissões, de outro, diminui também a disponibilidade de recursos.
"Aqui em Bonn [onde ocorre uma reunião preliminar] houve um processo de fortalecimento da confiança perdida", diz Luiz Alberto Figueiredo Machado, chefe dos negociadores brasileiros. Ele explica que houve avanços na arquitetura do acordo, e em novos pontos, como a governança das finanças.
A arquitetura do acordo que pode sair em Cancún terá, por exemplo, um capítulo de Redd, que se refere à redução das emissões por desmatamento, com o princípio e as fases deste tipo de projeto. Mas a decisão sobre se os recursos de Redd virão de fundos públicos ou do mercado ficará para depois.
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