Genilson Cézar | Para o Valor, de São Paulo
28/01/2011
Riscos e oportunidades se confundem no cenário de médio e longo prazos desenhado para a indústria brasileira de alumínio. "O Brasil está crescendo, o consumo interno é cada vez maior, mas quem vai suprir a demanda são outros países", diz Adjarma Azevedo, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Alumínio (Abal).
Segundo ele, o consumo brasileiro de alumínio no mercado interno vai dobrar em dez anos. Deve chegar a 2 milhões de toneladas até 2021. "Para suportar essa expansão, o país precisaria investir R$ 20 bilhões, tanto na área de alumínio primário quanto na área de semimanufaturados. Se isso não acontecer, a demanda será atendida através de importação", destaca.
O quadro ganha cores mais fortes do lado dos custos de energia - principal insumo para a produção primária da matéria-prima. Muitos fabricantes brasileiros deixaram de expandir suas operações ou investir em novas plantas de alumínio primário por conta desse entrave. O preço das tarifas de energia são considerados um dos mais elevados do mundo. "Em torno de 35% do custo de produção de uma tonelada do metal é energia elétrica", estima Eduardo Spalding, coordenador da comissão de energia da Associação Brasileira de Alumínio (Abal).
À medida que a escalada de preços passou a afetar mais e mais as indústrias de alumínio, as empresas foram entrando no vermelho e com o tempo algumas fecharam. A primeira foi a Valesul, que tinha capacidade de produção de 95 mil toneladas. "Depois foi a Novelis, que fechou uma planta que tinha capacidade de produção de 45 mil toneladas", diz o executivo.
As tarifas do preço de energia subiram 189% de 2001 a 2009, enquanto o IGP-M no período foi de 87%. "No mundo, a taxa de preços da energia paga pela indústria de alumínio está na faixa de US$ 25 a US$ 35 por MW/h. No Brasil, as empresas não pagam menos que o dobro", diz o executivo. "O alumínio é uma commodity, negociada na Bolsa de Londres, não há como repassar um aumento de 100% num insumo que é 35% do seu preço", afirma.
"Em 2009, entre alumínio primário e ligas, o Brasil importou 17 mil toneladas. Em 2010, importou 55 mil toneladas, ou seja 250% a mais. Em 2011, o que se observa é uma importação de pelo menos 100 mil toneladas, no mínimo. O Brasil tem possibilidade de ficar muito forte e continuar crescendo no setor de alumínio. Mas precisa brecar as importações de produtos acabados, pois não vai conseguir competir com os chineses", diz Azevedo.
Trabalhar com energia própria tem sido a alternativa da indústria brasileira de alumínio para contornar o impacto dos custos da energia na produção do metal no país. Os investimentos da Alcoa na geração de energia elétrica, nos últimos anos, já somam, aproximadamente, R$ 2,5 bilhões, e abrem o caminho da auto-suficiência na utilização desse insumo", informa Franklin Feder, presidente da subsidiária brasileira da multinacional americana.
A Alcoa vai atingir a partir de fevereiro 70% de auto-suficiência em energia elétrica com a entrada em operação da Usina Hidrelétrica Estreito (UHE), localizada entre os estados do Maranhão e Tocantins. Além de Estreito, a Alcoa é acionista e usuária de energia das hidrelétricas de Barra Grande e Machadinho, na divisa de Santa Catarina com Rio Grande do Sul (que fornecem a totalidade de energia para a fábrica de Poços de Caldas, em Minas Gerais) e de Serra do Falcão, na divisão de Goiás com Minas. São 550 MW de energia para uma demanda da companhia de 700 MW. "O desafio é ter mais energia para expandir nossas instalações produtivas", diz Feder.
A Votorantim Metais, de acordo com João Bosco Silva, diretor-superintendente da VM, holding de metais do grupo Votorantim, sempre acreditou na auto-suficiência energética como um caminho para o aumento de competitividade. Hoje, a Companhia Brasileira de Alumínio, que atua voltada para o mercado interno, gera aproximadamente 80% de energia consumida pela empresa. "O preço da energia para o setor industrial é o nó enfrentado pela indústria de alumínio no país", define Marco Antônio Palmieri, diretor de negócio alumínio da VM.
Ao longo dos últimos anos, a CBA já construiu 33 hidrelétricas com 2.286 MW de capacidade instalada para atender 80% das necessidades de energia da área de produção de alumínio. Em 2010 foram inauguradas mais duas hidrelétricas - de Salto do Pilão, em Santa Catarina, com capacidade para 182 MW, e a de Rio Verdinho, em Goiás, com 93 MW. "É uma forma de garantir o abastecimento em cenários de incertezas de preços e amparar o aumento da demanda proveniente do crescimento das operações, mas o que nos preocupa é que as bases de competitividade dos nossos concorrentes internacionais não são as mesmas que as nossas, no Brasil", observa Palmieri.
Do lado das oportunidades de negócios, o esforço da indústria transformadora está direcionado para a aplicação de novas tecnologias. Os motores dos automóveis, por exemplo, que antes eram feitos com chapas de ferro, hoje caminham aceleradamente para serem produzidos com blocos de alumínio, inclusive nos carros 1.0. Nas carrocerias de caminhões, há desenvolvimento de aplicações para transporte de cana, com redução de peso, economia de combustível e diminuição das emissões de gás. Esses produtos ainda podem ser reciclados. Além disso, segundo os dirigentes do setor, ganha força o desenvolvimento de prédios verdes, que incorporam o alumínio como elemento fundamental, principalmente nos painéis de energia solar.
A Votorantim Metais, por exemplo, está aplicando este ano o mesmo volume de recursos desembolsados em 2010, em torno de R$ 400 milhões, para melhorar a capacidade de produção em várias áreas: prensas de extrusão, laminação, incluindo também a mineração de bauxita, informa o diretor-superintendente da VM, João Bosco Silva.
A Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), maior fundição de alumínio do país, comercializou 510 mil toneladas em 2009 e a meta para este ano, de acordo com João Bosco, é um acréscimo de mais 100 mil toneladas. "Nosso foco, mais do que nunca, é atender o crescimento da demanda que vemos no mercado interno. Reduzimos as exportações, de 40% para 20% do total, para atender nossa clientela interna", diz o executivo.
Segundo ele, boa parte desse aumento de produção está vindo da área de reciclagem de alumínio, um movimento estratégico que resultou na compra da Metalex, indústria paulista voltada à reciclagem de sucatas de alumínio. Mas a CBA deve aumentar também seu volume de importações para algo em torno de 40 mil toneladas. "É uma realidade que estamos enfrentando, mas a CBA tem se saído muito bem no atendimento do mercado interno devido á sua política de fidelização dos clientes", afirma.
Para a Alcoa, um dos maiores fabricantes mundiais de alumínio, o maior desafio hoje no Brasil é estabilizar o funcionamento das novas unidades industriais, principalmente os dois megaprojetos de caráter estruturante inaugurados recentemente: a mina de bauxita de Juruti, no Estado do Pará, fruto de investimento de US$ 2 bilhões, e a expansão da refinaria de alumina de São Luiz, no Maranhão. "São operações complexas, repletas de inter-relações, e fazer essas relações funcionar a contento não é tarefa fácil", afirma o presidente Franklin Feder.
A Alcoa tem uma produção anual de alumínio de 370 mil toneladas (dados da empresa de 2009) e também produz transformados de alumínio. "Somos o maior produtor de perfis extrudados de alumínio e de folhas finas de alumínio e a nossa tarefa para 2011, igualmente, é incrementar essa produção para atender demandas crescentes no setor de construção civil, de embalagens e do setor industrial, que aumentam a taxas expressivas", explica. "A Alcoa teve um quarto trimestre de 2010 extremamente positivo. Foi o maior resultado depois de 2008, saindo muito bem da crise de 2009 e 2010, e o Brasil tem recebido um aporte muito importante de investimentos para suportar a expansão dos nossos negócios", diz.
Apesar de ter desativado sua usina de produção de alumínio primário em Aratu, na Bahia, a Novelis investe no setor de transformação. Fechou contrato com consórcio composto pela a SMS Siemag AG e a Siemens AG para ampliação de sua fábrica de laminados de alumínio, em Pindamonhangaba, interior de São Paulo, com investimentos da ordem de US$ 300 milhões. A partir dessa ampliação, a unidade de Pindamonhangaba, aumentará em 50% sua capacidade de produção instalada, para 600 mil toneladas ao ano, a partir de 2012. Objetivo, informa a empresa, é atender à crescente demanda por chapas de alumínio do mercado nacional e sul-americano, principalmente no setor de bebidas, que tem crescido cerca de 10% ao ano.
http://www.valoreconomico.com.br/impresso/alcoa/3360/375113/o-peso-da-energia
Nenhum comentário:
Postar um comentário